Quem somos

A FASFI – Fundação de Ajuda Solidária Filhas de Jesus é uma organização civil, não governamental, sem fins lucrativos, fundada em 2003, na Espanha. No Brasil, apresenta-se como uma filial e conta com a participação de leigos voluntários e colaboradores, independentemente da crença religiosa. Essa fundação faz parceria com as irmãs Filhas de Jesus e busca globalizar a solidariedade.

quarta-feira, 31 de maio de 2017

Animar o ideal e criar processos...




“A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana.”Franz Kafka


Animar o ideal e criar processos...

Quero colocar algumas utopias e desafios na construção deste ideal chamado FASFI. Claro, dentro dos limites de visão e de conhecimento de quem escreve. Para isso é preciso lê-lo desde um desejo grande de cada um(a) e de todos que compõem esse "universo Fasfiano". O ponto de partida é o objetivo de globalizar a Solidariedade e a Justiça no mundo, que já é uma grande e pretensiosa aspiração.
Um primeiro desafio que foi colocado na formação dos primeiros grupos da FASFI era: como contagiar os leigos e irmãs neste empreendimento. Além do mais, não havia ainda nada concreto. O objetivo é globalizar a solidariedade pelo mundo; e a vida-missão de Santa Cândida animou a muitos no início. Deste ponto surgiram na caminhada algumas luzes e sombras que se precisaria enfrentar e nomear para continuar a seguir. A tentativa é de trazer para esta reflexão alguns pontos que foram sendo importantes e provocantes nestes tempos.
O binômio local x global é muito importante que seja levado em conta e que se tenha clareza de como integrá-lo em nossa consciência e em nossa ação. Às vezes se pode fazer um esforço gigantesco, e não fácil, de se projetar uma consciência global. Contudo, poderá ocorrer alguns perigos. Como por exemplo: que consciência global? Aquela ocidental e neo-liberal pregada pelo deus mercado que com seu poder sedutor torna mercadoria até a vida humana? Para mim a representação máxima desta ideologia está simbolizada no crime do século: o tráfico de pessoas.
O desafio ao olhar o mundo, é vê-lo desde esse nosso objetivo de globalização da Justiça e da Solidariedade. Para isso é preciso ter bases sólidas de enfrentamentos apoiadas sempre na Dignidade da Pessoa Humana, de toda a pessoa humana e no respeito ao planeta. Esse é o tesouro que penso devemos levar em vasos de barro. Esse horizonte precisa ser concebido numa forma de consciência vivencial e cotidiana. Dos grandes aos pequenos e cotidianos gestos de nossa vida. Cada um, cada grupo, poderá ver maneiras de crescer nesta experiência. Ex.: ao falar da falta d’água no mundo, eu preciso criar hábitos de consciência disso. Nada fanático! Algo simples, mas que faça criar comunhão e conectar-se com esta realidade.

Não podemos nos alijar do local, claro, devemos ter pés no chão, mesmo mirando ao horizonte. Sinto que precisa haver essa conexão de cada gesto e cada luta local para que esteja em comunhão com toda ação e presença da FASFI e de todas as ações em favor da vida no mundo. E ao mesmo tempo tenha a lucidez, uma metodologia inclusiva e emancipatória que promova a vida e o bem de cada grupo que se coloca em relação. Dizia sempre nos grupos da FASFI no Brasil: nosso pequeno gesto de enviar um convite da reunião, precisa estar em comunhão com todas as ações da FASFI no mundo. E ao mesmo tempo o local precisa ser pensado levando em conta seus processos, histórias, sujeitos, limites e potencialidades para que de fato provoque para a organização e cidadania.
Outro ponto que penso ser nevrálgico é a questão da Justiça e da Cidadania. É preciso ir além da solidariedade, e traçar caminhos de busca da justiça e da cidadania para todos. Ambas carecem estar pautadas pelos valores evangélicos que impulsionam nosso ideal e nossas práticas. Sem justiça a solidariedade poderá não  promover, poderá virar uma relação desigual: eu que posso dar e o outro que recebe. Promover uma cidadania ativa é caminho de libertação e de consciência coletiva, que abre novos horizontes para a formação de sujeitos de direitos, capazes de refletir e posicionar-se frente aos problemas e realidades.
O caminho da Justiça e da Cidadania não é um caminho fácil e rápido de se trilhar. É exigente e lento. Às vezes em determinados grupos não se poderá afrontá-las, sem antes ter um caminho prévio de resgate da dignidade humana e de uma mística encarnada que crie no sujeito valores e bases que possam sustentar a longa caminhada.
Tem me questionado muito, desde o Brasil e principalmente agora em Moçambique, a “indústria” dos Projetos (vide filme "Quanto custa ou é a quilo?" ). Fico muito preocupada com isto. A miséria não pode virar também objeto. É preciso ter clareza de nossos valores, da nossa identidade, dos nossos objetivos e principalmente o que nosso projeto vai trazer de fato em promoção para a vida dos sujeitos que serão beneficiados. Penso que um ponto importante que temos em nossos critérios é a questão da reciprocidade e de também do “levar em conta os sujeitos”: o valor social e vivencial que o mundo dos pobres nos oferta não há dinheiro que pague. E não é objeto, é conhecimento, é mística e instrumento de transformação de nossas vidas e de nosso mundo. Esse deve ser nosso Projeto. O financeiro  não se pode antepor a isso. Porque seria corrupção.
No cenário mundial os direitos humanos é um projeto proposto a todas as nações e seguimentos que se dizem democráticos. Entendo que os Direitos Humanos, respeitados a história e os processos de cada nação, superada uma visão apenas liberal e civilista dos mesmos, poderá ser para nossa missão um instrumento e bandeira a ser defendida e promovida.
Outra discussão que temos feito, nestes tempos, diz respeito à nossa ação voluntária juntos às pessoas em situação de vulnerabilidade social. Nossos documentos já sinalizam para isso, mas no cotidiano ficamos preocupadas em ter um diferencial nesta ação, algo que sinalize e ao mesmo tempo nos comprometa com essas pessoas e realidades. Aquela reciprocidade que transforma não só as suas vidas, mas também a nossa e o horizonte de nossos projetos e ações.
O maior valor da FASFI não está no capital que não temos, não está somente em sua boa organização e nem num batalhão de voluntários ou projetos. O valor da FASFI está naqueles e aquelas que ela deseja servir e promover. Está no nosso desejo de ser luz e sal no mundo de todos os seus agentes, voluntários e colaboradores. Temos um caminho que já começamos a trilhar e que nos provoca a dar passos mais ousados de práxis, de comunhão e fraternidade universal.
A promoção da Justiça, Solidariedade, Cidadania e Direitos Humanos é o outro nome da profecia hoje em nosso mundo. Precisamos descobrir sinais, ações e posturas cada vez mais comprometidas com a promoção do Reino que é de Deus. Seja no anúncio, na denúncia e na proposição de um mundo mais humano e fraterno para todos.
Esse textinho no qual tentei expor algumas provocações não é tese, receita ou está de alguma forma fechado. É simplesmente uma motivação para a reflexão e o diálogo. Um bom encontro e trabalho a todas.
Termino com as palavras do profeta de nosso tempo, D. Pedro Casaldáliga: 

“No anhelamos comer la fruta vana.
Hijos de barro y libertad, nosotros,
en la común desolación humana,
no queremos ser dioses, sino otros.
Queremos ser y hacer hijos y hermanos
sobre la tierra madre compartida,
sin lucros y sin deudas en las manos,
sueltos los ríos claros de la vida.
Libres de querubines y de espadas,
queremos conjugar nuestras miradas,
todos iguales en el nuevo edén.
Y en los silencios de la tarde honda
sentir Tu paso amigo por la fronda
y el aire de Tu boca en nuestra sien”.



Em comunhão e em fraternidade, Joseilda A. A. Borges, FI , 01 de março de 2013

(Texto originariamente  apresentado como reflexão por ocasião do Encontro Internacional da FASFI em  República Dominicana no ano de 2013).

2 comentários:

  1. Realmente, esse texto nos põe a refletir profundamente.O que fazemos é suficiente diante das carências sociais, emocionais educacionais ,físicas e ambientais dos povos e nações????
    Senti muito a partida da Ir. Joseilda, que me passou um pouco de sua vivência e experiência do seu trabalho na Fasfi. Aproveitando esse email gostaria de saber quando haverá nova reunião no qual quero participar.
    M.Bernadete Albernaz 31 999578222.

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